domingo, 18 de dezembro de 2011

Eclesiastes

Um momento
muito Eclesiastes
dentro do peito

O que realmente vale a luta?
Será que há mais ilusão
do que verdade no que se deseja?

E eu sinto muitas nuvens amargas
no céu de dentro

E eu vejo que as minhas lágrimas
procuram uma causa pura

E eu temo não causar à existência
o que o valor da vida significa

E eu não consigo cantar
pois dói saber
que muito do que ferve
ou sublima supremo
no coração,
é dura perda de tempo.
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Faz\ um bom tempo que este poema foi escrito. Aliás, foi, exatamente, escrito no dia 10 de outubro deste ano.
Sabe quando você percebe que muitas coisas podem não passar de inutilidades? De vaidades? De coisas vãs que têm tomado o tempo de coisas importantes? Então, foi isso que aconteceu comigo.
E neste processo, há questionamento que só a Sabedoria, que é o Deus Criador e Redentor, é capaz de responder ao nosso coração, como uma brisa suave que balança a relva.

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Por Marcello Ferreira

domingo, 20 de novembro de 2011

MARIA ALICE - SEGUNDO CAPÍTULO









A Maria Alice bandida foi presa pela polícia, após ter baleado um dos seguranças do escritório, quando lutou para escapar deste estabelecimento, e fugiu. Depois de algumas horas, o empregado baleado faleceu.
Sandra ficou toda nervosa e fez chilique na delegacia pedindo que tomassem providências sérias quanto à criminosa.
Melhor: ela queria que a mulher do crime que tinha o mesmo nome que a sua filha, sofresse com violência e maus tratos.

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Maria Alice morena e de parecer muito latino-americano, estava se arrumando em seu barraco-pedaço de uma hipertrofiada favela. Estava vestida com uma microssaia, uma tomara-que-caia vermelha, a boca rubra mais que o sangue e a maquiagem feita para a guerra: ela era uma garota de programa.
E, ali, naquele crepúsculo, todo bafo, a sua mãe Azaléia, baixinha e roliça, com um bigode marcando espaço semi-verde cercava a filha, sorrindo.
E então, falou o que estava radiando maligno em seu coração:
- Meu santo... Eu sô tão orgulhosa de você!
Espantada, Maria Alice:
- Oi? Orgulhosa de mim?
Sorridente-alva com um sorriso branco-amarelo-lâmpada cruel, a mãe explicou:
- Sim! Muito orgulhosa do que você é!
Atormentada:
- Mãe, eu sou uma prostituta! Você tem orgulho disso?
Azaléia apertando as bochechas da filha:
- Você está cumprindo o seu propósito. Eu te ofereci para os meus guias, para ser a grande meretriz, a paixão dos homens. Para ser amada por todas as tribos! Para ser de todos quando todos quisessem.
Afastou-se, bruscamente, da mãe, da qual, as mãos que apertavam as bochechas da filha, estavam, agora, perfumadas pela maquiagem do rosto de quem  apertava e também estavam no vácuo; estavam desprezadas sem alguém afagar.
Maria Alice:
- O QUE? Cê tá doida? Maluca varrida? Por que você faria isso?
Azaléia começa a dar uma gargalhada diabólica e cai de joelhos aos pés da filha, dizendo:
- Você foi a oferenda necessária para trazer seu pai de volta.
Maria Alice abre a porta feita de vérios pedaços de madeira, com a sua microbolsa pendurada no ombro, e antes de sair diz:
- Você é louca.

AGORA ELA ESTÁ PRESA. FOI ENVIADA PARA UMA PRISÃO PROVISÓRIA AGUARDANDO O JULGAMENTO.

E o delegado ficou insistindo com a sua voz de pigarro:
- Eu sei quem você é. Eu conheço o seu tipo.

E, dentro de si, Maria Alice:
- Até parece, até parece, até parece... Você não sabe quem sou. Não mesmo.

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6 anos atrás

Ela conheceu o Mário, mais chamado por Mamá, um traficante, que por ela, apaixonou-se. E, saiba, essa paixão foi recíproca.
Para a dor mística de Azaléia, a sua filha deixou as ruas e os programas e foi morar no sobrado do Mamá.
Após um tempo, Maria Alice quis entrar no business da maconha. Mário não aceitou de pronto, contudo numa noite, ele foi baleado e morreu. Daí então, Alice entrou no negócio como a dona; a manda-chuva; a herdeira.
E o que ela estava fazendo assaltando alguém, se ela era a chefona?
Explico: ela começou a namorar um dos caras daquele comando, que logo a ludibriou, pedindo para tomar o lugar dela na liderança. E o que essa Maria Alice fez? Carente por algum vínculo emocional, ela aceitou.
Após um tempo, ela passou a apanhar do novo namorado e mais desejosa por atenção, traiu-o com um dos subordinados. Este último foi assassinado e ela expulsa daquele clã, após apanhar muito.

Sozinha, foi até a casa da mãe, procurando por socorro.
Azaléia deu na cara da filha e gritou:
- Você fugiu do seu propósito! Você me desonrou! Sai daqui, sai! Xô, xô, xô!
E, parada debaixo da garoa fina, contemplou a neblina alva que cobria o morro onde aquela comunidade ficava. Não conseguiu chorar, pois as lágrimas já haviam esgotado do cofre em seu ventre.

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Agora chegando em uma sala-esgoto abarrotada de mulheres caídas, Maria Alice Carmo da Silva, 26. Ela pergunta com os olhos vagos:
- O que, de agora, em diante?

Enquanto isso,  a outra Maria Alice, filha de dona Sandra, chega de malas no apê da amiga Luiza:
- OOOOI!

[CONTINUA]

Minissérie de Marcello Ferreira.

sábado, 12 de novembro de 2011

O que é uma ferida

Uma ferida não é somente
o corte sangrento que se vê

Mas, também, a canção,
que por causa dos arranhões,
tornou-se muda

E, por mais que passe o tempo
maldizendo os gritos,
nenhuma das suas chagas se cura

Querida emudecida canção,
use o seu tempo como pérola rara:
cure a sua mudez; procure o que
sara a sua familiar ferida.

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Eu senti a gênese deste poema, quando observei um arranhão numa parte do meu corpo, da qual, exatamente, não tenho certeza para dizer qual foi [acho que foi no braço].
E veio a mim, um pensamento: "será que para ser ferida, é preciso ser algo exterior? Ser visível? Por que é preciso ver para ser dor? Constatar com a própria visão o que é dor e o que não é?"
E se a dor for, simplesmente e de modo assustador, não perceber a dor que habita no mais profundo peito?
E se a dor for a cegueira existencial. O ser mudo em seu todo. A vida flagelada interinamente.
Há ferida externa e também, há muitas internas.
Eu aconselho a todos a procurarem a cura existencial.
E se alguém quiser uma orientação de onde encontrá-la, eu vou dar a minha palavra.

Quer o fim da ferida? Ou quer gastar o tempo da existência lutando em escondê-la e "maldizendo os gritos" botando a culpa nos outros ou em outras coisas?

Por: Marcello Ferreira.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

MARIA ALICE: PRIMEIRO CAPÍTULO

Ela chorava.
E pensava em revolucionar a tudo; tirar tudo do seu lugar. Estava difícil de se sentir bem com todos os pesos ocupando o seu espaço.
Por isso, Maria Alice enxugou as lágrimas com as próprias mãos, sujando-as com a água preta escorrida nos olhos, e não esperou a compaixão alheia.
Pegou a sua bolsa vermelha de couro sintético e foi.

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No dia anterior, além das provas nefastas da faculdade, ela provou ser mais forte do que se imaginava: terminou um namoro de quatro anos que foi um puro vai-vem, um gotejar de incômodo, de "não" e "sim" mal resolvidos.
Alice passava o tempo mais oprimida, sufocada do que amando e sentindo o amor no ar.
Mandou Fernando, o cruel "Fê", embora. Depois, engoliu o choro e com a bolsa vermelha de couro sintético, abriu a porta e foi.

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MINUTOS ANTES:
(POR LIGAÇÃO DO CELULAR)

Maria Alice: não quero mais você na minha vida!
Fernando: como assim?
Maria Alice: você pode não entender - como sempre - mas nós (gaguejou)... Nós não (nó na garganta)... Nós não podemos... Ai, meu Deus, como eu faço isso?
Fernando: Isso o que, Ma? Do que você tá falando?
Maria Alice: a gente não pode mais ficar juntos. Pra mim, o nosso namoro acabou e dessa vez não tem volta.

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MUITOS ANOS ATRÁS

Aos seis anos de idade, Maria Alice assistia às brigas diárias e violentas entre o seu pai esforçado e manso, porém, naquele momento, desempregado, e a sua mãe viciada em bingo e em casos com homens casados.
Naquele noite do abril, a pequenina chorou e soluçou muito, ao ver pai indo embora de casa, dizendo a ela, com vontade de chorar:
- Perdoe a sua mãe, mas nunca seja igual a ela. Lembre-se: perdoe a sua mãe.

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Hoje a mãe de Maria Alice ganha um gordo salário sendo secretária de um grande escritório de advocacia.
Esse salário vultuoso paga os estudos da filha tão confusa. Essa mãe há tempos não recebe uma expressão de carinho da filhota. Culpada, a dona Sandra? Pode ser.
Mas, olha o que vai acontecer na saída do escritório Lucchi & Gomes: um assalto.

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Maria Alice saía de casa com algumas malas. Ela tinha voltado do banco, no qual, sacou todo o dinheiro de sua conta para usar para o que precisasse sem ser rastreada pela polícia, quando a mãe descobrisse que ela havia ido embora de casa.
Foi até a rodoviária, naquele crepúsculo quente, e pegou um ônibus para uma cidade do interior. Sentada no seu assento confortável, enviou um SMS para a mãe: "Fui embora de casa. Adeus". E não chorou.

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Enfim, sob a brisa quente daquele início de noite, Sandra saía pomposa do escritório e foi surpreendida, no caminho até o seu carro, por um aviso:
- Me passa a chave do carro!
Então, assustada, ela estava sendo roubada por uma mulher, que também se chamava Maria Alice.
Enquanto isso, a filha que tinha acabado de terminar o namoro, ia embora para o interior.

CONTINUA...
(na PRÓXIMA SEXTA-FEIRA).

Por: Marcello Ferreira.

domingo, 23 de outubro de 2011

O Hino do Povo da Floresta (de Marcello Ferreira)


Nós viemos da floresta
e nos transformamos
em folhas quando a luta grita

Com a luz do Sol
correndo em nossas veias,
venceremos os caçadores

E eles vêm marchando sozinhos,
cada um na sua cobiça

Mas, terão surpresa final:
venceremos e permaneceremos!

Alegraremo-nos no Sol
do dia vindouro
e não será o nosso fim, esta noite

O meu limbo brilhará
como o de todos nós
e sairemos voando
rasgando o céu
em estrelas.

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Este poema pode parecer o mais louco e repleto de devaneios que eu já expus aqui. Na verdade, eu tinha muitos outros poemas menos cheios de metáforas e muito legais. Contudo, eu segui o sentimento de que eu deveria expor este aqui. Como todos os outros, escrevi-o no meu celular e foi escrito no mesmo dia que eu escrevi "Meninos Não Choram".
A inspiração pode ser a mais maluca: eu a tive sonhando.
E não é a primeira vez que acontece comigo. Haverá outro poema aqui que quando eu estava quase dormindo, eu ouvi uma voz e uma imagem na cabeça, suspirando o seu primeiro verso.
Enfim, eu sonhei com uma cantora cantando esse verso em inglês: "We all came from the jungle/ We all become the jungle (Todos nós viemos da selva/ Todos nós nos tornamos a selva)". E enquanto eu a ouvia, eu via o céu lindo e com poucas nuvens.
O sentimento do poema é este: considere que nós somos um povo que teve a sua origem na floresta. Não sendo um povo indígena dela ou algo assim. Nós nascemos das árvores. E ainda guardamos essa essência dentro de nós, porque quando chega o momento difícil, nós nos tornamos folhas e brilhando, subimos voando ao céu.
O que isso quer dizer é que quando nós temos a nossa fonte, nossa origem ontológica e subjetiva (origem do ser), em Deus, o Bem, quando chega o momento difícil, nós nos apegamos a essa essência.  Ela se manifesta e vencemos o Mal (os caçadores), e de tão leves e cheios de luz, voamos.
Mas um fator nessa análise é fundamental: as folhas que guardam a luz do Sol em si (como elas o fazem em forma de glicose) vencem o Perigo. Assim deve ser conosco: se o nosso interior está alimentado pela luz (o Espírito de Deus, o Amor, o Bem, a Paz, o Sonho) do Maior Sol (Deus, o Criador), temos força suficiente para vencermos a tudo e se alegrar no dia vindouro: a Eternidade (o que vem após essa vida terrena).

Que você se alimente do Sol!

domingo, 16 de outubro de 2011

"Meninos não choram" (de Marcello Ferreira)



"Meninos não choram", ele resmungava miúdo,
na esquina, parado

Os seus olhos estavam ao próximo futuro
e
vagos doíam bastante
quietos

Havia uma luta em seus pensamentos
e se a esperança não se fosse
como folha com o vento da avenida,
a batalha seria vencida

Aquele rapaz assustado
com o que podia chegar
lá do horizonte:
ser forte, ser pai, ser marido, ser músculo
e também ser amor, ser empregado
e ter que ser patrão das emoções
e dos cães vadios,
e no fim, não chorar,
pois meninos não choram
[por fora].

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Andando pelo centro da cidade, eu avistei um jovem parado na esquina, e aquela imagem me levou a pensar se ele pensava em seu futuro. Principalmente, em garotos, pensar no futuro chega a doer bastante.
Muitos dizem que a vida das mulheres é mais dura que a dos homens. Eu discordo.
Nem a dos homens chega a ser mais difícil que a das mocinhas, mas com certeza, ela não é mais fácil.
Há uma grande carga de expectativa sobre o homem desde que ele chega ao mundo: ele tem que ser "o cara", não ser mole etc. etc. O que causa nas muitas das vezes, um terrível isolamento emocional masculino.
Os garotos sofrem com a carga que a sociedade impõem sobre nós, SIM!
A maioria de nós podem não chorar por fora, mas sofremos bastante por dentro. Só um relacionamento constante com o Criador que pode aliviar essa carga e nos dar a paz e a luz para seguir no caminho certo.
O bom é que diante dEle, nós, os homens desse mundo, podemos chorar, sem timidez, o que, fora dessa circunstância pode ser um grande desafio.
Por isso, quando você, menina ou mulher, for julgar algum ser masculino, lembre-se que ele tem as suas dores, lutas e vitórias.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Os Malditos


Eu quero amar!

Amar a todos os desamados da terra



Quero amá-los com o amor maior
e vê-los sorrindo de amar
e fulgentes, por amor, terem recebido



Quero ver em mim
um sorriso eterno que é
querer o bem a todos os malditos
pela boca-mundo
e também a todos os benditos



Quero amar e ser feliz
por todos que do amor
têm bebido


e dele, terem encontrado a sua maior fonte

!

[você sabe].

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Eu tinha conversado com uma pessoa. Um tipo de pessoa que sofreu muito na vida. Solitária e muitas vezes desprezada. E isso me doeu bastante. E com essa dor, foi gerada uma grande compaixão que me moveu a escrever este poema.
Foi um tipo de dor que já senti muitas vezes. E dói bastante pensar que alguém é tão desprezado, esquecido e machucado devido a fatores que não dependem dela como>

$ da família em que nasceu.
deficiência física com a qual já veio ao mundo.

Então, eu senti o desejo e a minha escolha pessoal por amar a todos que são esquecidos, abandonados e feridos. E não só a eles.

De: Marcello Ferreira.

domingo, 9 de outubro de 2011

O que é "mobilit"?

Eu ganhei o meu 4º celular. E o recebi como presente de aniversário: fiz 19 anos neste mês de outubro.
Eu fiquei muito feliz. Principalmente, porque eu iria ouvir as músicas que eu mais gosto, no último volume, com o meu fone bem fincado nos meus ouvidos.
Porém, eu descobri uma outra maravilhosa função para essa maravilha tecnológica chamada celular: escrever poemas e narrativas curtas. ÉÉÉ!
Portanto, esse blog transportará você, os seus pensamentos, as suas emoções e sentimentos ao mundo da poesia e da literatura dos mobiles; da grande lira tocada no teclado do meu celular.
Espere poemas curtos e narrativas concisas. Não esperem poemas complicados ou inefáveis ou narrativas vazias: tudo o que você encontrará será cheio de inspiração, arte e poder.

E na publicação de cada poema ou narrativa, eu relatarei o que eu senti, o que eu pensei, qual o significado e o que me inspirou para construir aquele texto.

Por isso, só posso desejar: SE ESBALDEM NA GORDURA DA DELÍCIA DA POESIA E DA LITERATURA!

VIVA À MOBILIRA!
VIVA À POESIA INCORPORADA ÀS ATUAIS ESTRUTURAS!

Marcello Ferreira.